Em um mundo pós-Covid-19, diversas empresas estão prevendo mudanças drásticas para as suas gestões e estratégias. Muitas delas já observamos agora: menos viagens, mais trabalho remoto, menor concentração nas cidades. Isto exigirá dos grandes líderes agilidade criativa para encontrar maneiras inovadoras de equilibrar o bem-estar de seus colaboradores e suas responsabilidades sociais com a necessidade financeira dos negócios.
Porém a Covid-19 é só uma entre as tantas crises ocasionadas pelo sistema capitalista ao longo da história mundial. Só em 2019, mais de duas toneladas de gelo derreteram na Groenlândia, sendo considerado o maior evento deste tipo na história, ao mesmo tempo que mais de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo. Estes episódios são consequências de um modelo econômico que não reflete sobre a preservação da natureza e incentiva a crescente desigualdade social.
Se continuarmos nessa velocidade, o prognóstico é alarmante: mais vírus irão dizimar a população, teremos um cenário de crise financeira permanente, a desigualdade social aumentará cada vez mais e as pressões sobre o meio ambiente serão mais corriqueiras e implacáveis. Por isso, é evidente que precisamos mudar a nossa visão sobre o sistema econômico vigente. Nota-se que está ultrapassado e não atende aos desafios do século XXI.
Equilibrar a lucratividade para as empresas ao mesmo tempo que se promove o desenvolvimento social e a preservação ambiental é o desafio da economia atual. Mas existem alternativas viáveis? Para responder aos desafios contemporâneos, é preciso que as lideranças de empresas, governos e organizações pensem de forma coletiva e harmônica, reagindo de forma ativa e assertiva em ações que visam equilibrar essa equação. É preciso pensar o Capitalismo Sustentável como caminho para responder às demandas da sociedade atual.
Segundo Nana Baffour, Chairman, CEO e Chief Culture Officer da Qintess, as empresas precisam ter ações concretas e cada vez mais fundamentadas em relação à promoção do capitalismo sustentável. “Precisamos criar ambientes que sejam mais inclusivos e sustentáveis. A nossa forma de capitalismo não é eficiente e a pandemia mostrou que também não é sustentável”, alega.
Conversamos com Nana sobre “Capitalismo Sustentável em um mundo de mudanças”, tema do próximo Economics of Change, evento digital que acontece no dia 04 de novembro. Confira.
Na realidade, eu vinha estudando este tema há bastante tempo. Há mais de 20 anos, eu trabalhei no Mercado de Capital, onde fui Investment Banker de um dos maiores bancos do mundo e trabalhava com clientes do setor de Utilities. Na época, eu estava no time que fez a primeira captação no mercado de capital institucional para um gerador de energia eólica.
Depois, quando eu comecei a empreender na área de data center, que possui uma alta demanda de eletricidade, fomos um dos primeiros data centers a conseguir uma certificação de eficiência no uso de eletricidade pelo governo Norte Americano.
E por fim, falando pessoalmente, eu nasci na África e cheguei nos Estados Unidos com 20 anos, onde cresci e construí a minha carreira. A participação do negro no mercado de capital e no mercado empreendedor também foi algo que eu comecei a questionar, a pensar formas de trabalhar a inclusão social, de como trabalhar a diversidade dentro dos times para criar mais ideias e fomentar a inovação.
Esses são os três pontos que se uniram durante mais de 20 anos para que eu acabasse chegando à conclusão de que tenho que fazer mais para ajudar a criar ambientes corporativos com um capitalismo sustentável.
Para fazer isso existem vários elementos, mas antes de mais nada, é importante lembrar que estamos tentando promover o capitalismo, esse é o primeiro ponto. O capitalismo precisa promover resultados, lucros, performance, promover eficiência nas operações, agilidade, competências, entre outros.
Só que estamos falando que podemos promover o capitalismo de forma sustentável, onde você olha para os constituintes da empresa: clientes, colaboradores, acionistas e para a sociedade e trata de todos esses constituintes de uma forma equilibrada, ou seja, você não prejudica nenhum desses quatro para dar vantagem a um. Antigamente, as empresas não se preocupavam com esse equilíbrio, só se preocupavam com os acionistas.
Na nossa empresa, fazemos isso de várias formas. Um exemplo é o fechamento de parcerias com instituições das quais viramos mantenedoras. Assim, apoiamos a inclusão de pessoas que normalmente não estão inseridas no mercado de tecnologia. Trabalhamos a capacitação de jovens das periferias e estamos começando a apoiar empresas que pertencem a mulheres, negros e outras pessoas que nem sempre acabam conseguindo apoio. Assim, começamos a desenvolver líderes mais fortes para que eles também consigam criar redes de bem nas suas comunidades.
O nosso sistema de capitalismo como sociedade mundial não é sustentável, então as crises que acontecem ao longo da história são por conta disso. Então, o que as lideranças de grandes empresas precisam começar a fazer:
Primeiro, consolidar a participação de gente que não está normalmente inserida em grandes empresas, como profissionais de comunidades periféricas. Segundo ponto, os líderes precisam olhar para a cadeia de suprimentos e começar a convidar empresas que também estão fora do dia a dia deles, da comunidade deles, para que possam participar.
Por que não contratar empresas que foram fundadas por gente da periferia, mulheres ou negros? As lideranças precisam fazer questão de dar oportunidades e capacitar as pessoas que trabalham para eles, precisam investir nos colaboradores de uma forma mais ativa e assertiva. Essas ações concretas podem começar amanhã, mas precisa de vontade. Não adianta ficar apenas no discurso.
Eu tenho uma mensagem simples, não adianta achar que o Brasil não vai ter um movimento forte na direção de um capitalismo sustentável, porque vai ter. A história nos mostra que quando chega uma mudança na sociedade, essa mudança começa aos poucos e vira uma revolução.
Isso vai acontecer, se você quiser ou não. Trata-se de é uma questão de sobrevivência. É necessário olhar através do capitalismo sustentável. Os líderes mais estratégicos já começaram a estudar e tomar ações que estão impactando no currículo, processo de seleção e no mercado de capital.
Primeiro desafio é a inércia e o segundo desafio é a apatia. As pessoas acham que não tem nada haver com elas, preocupam-se mais com os problemas estratégicos e pensam que as ações para desenvolver um capitalismo sustentável como perda de tempo. Mas quem realmente é estratégico, entende que isso é tão estratégico quanto a criação de novas soluções, por exemplo.
Na minha opinião, o Brasil é um dos países no mundo que tem muito a ganhar, se conseguir trilhar esse caminho. Pois, em primeiro lugar, tem grande parte da população que não está inserida no setor de tecnologia, no setor corporativo. E na medida em que se consegue incluir essa população, vai dar um boom no PIB.
O segundo ponto é que o Brasil possui uma diversidade de cultura, de pessoas, de clima e de terra rica, o que o coloca em posição de destaque para se tornar um dos países mais inovadores do mundo. E o terceiro ponto é a floresta Amazônica, que é o que traz vida para o mundo.
Então, o Brasil já está bem avançado na questão da sustentabilidade no que diz respeito ao meio ambiente, se conseguir efetivar a inclusão da população, agregando tudo isso a uma cultura forte e diversa, no meu ponto de vista, é um dos países que mais tem a ganhar com o Capitalismo Sustentável.
Eles vão ter acesso a pesquisas, que tratam esse assunto do ponto de vista financeiro. Muitas vezes, quando se fala em Capitalismo Sustentável, as pessoas acham que não traz lucro. Os participantes vão sair com conhecimento mais atualizado do mundo financeiro para ajudá-los a usar e entender métricas que realmente mostrem a forma de medir as atividades sustentáveis.
Vão entender como a tecnologia ajuda as empresas a criar um capitalismo sustentável. E verão líderes que já estão executando ações concretas direcionando seus movimentos em prol do capitalismo sustentável.
Compartilhar informações é a maneira que encontramos para construir as mudanças que o mundo precisa. A terceira edição do Economics of Change reúne uma seleção de líderes e especialistas em um debate sobre o Capitalismo Sustentável em um mundo de mudanças. O encontro acontece no dia 04 de novembro, às 10h.
Inscreva-se e participe desse debate com líderes mundiais que possuem conhecimento e experiência no assunto: https://economicsofchange.com/
Chairman, CEO e Chief Culture Officer da Qintess. É também CEO e fundador da Bottega S.a.r.l., holding de investimentos em oportunidades em tecnologia. Graduado em Economia pela Lawrence University, possui Mestrado em Economia pela University of North Carolina, MBA pela New York University's Stern School of Business, e certificado Chartered Financial Analyst (CFA®️).